Mão biônica pode sentir objetos e ‘conversar’ com o cérebro em tempo real
Imagine uma mão biônica, feita de plástico, com sensores conectados
diretamente ao seu sistema nervoso, capaz não só de abrir e fechar os
dedos, mas de sentir realisticamente o formato e a consistência de
objetos; e transmitir essas informações para o seu cérebro em tempo
real, da mesma forma que uma mão biológica de verdade.
É o que inventaram pesquisadores europeus, segundo um trabalho publicado na edição desta semana de revista Science Translational Medicine.
Em mais um avanço importante no desenvolvimento de tecnologias de
interface cérebro-máquina (ICM) voltadas para a reabilitação de pessoas
lesionadas, eles criaram uma prótese manual capaz de “conversar” com o
sistema nervoso e restaurar a sensação de tato a um amputado que perdeu a
mão num acidente com fogos de artifício dez anos atrás. Seu nome:
Dennis Aabo Sorensen.
Equipada com sensores nas pontas dos dedos e conectada ao sistema
nervoso do paciente por meio de eletrodos implantados cirurgicamente em
dois nervos preservados do antebraço (o ulnar e o mediano), a mão
biônica é capaz de trocar informações táteis e motoras com o cérebro em
tempo real, num sistema bidirecional.
Os sinais eletrônicos captados pelos sensores nos dedos são
“traduzidos” (codificados) por um computador externo e retransmitidos
para o sistema nervoso na forma de impulsos elétricos que o cérebro
consegue entender como informações táteis – por exemplo, sobre o
formato, tamanho e a consistência do objeto que está sendo tocado. O
cérebro, então, envia os comandos necessários de volta para o nervos do
braço – por exemplo, ordenando à mão que “aperte mais” ou “aperte menos”
um determinado objeto para segurá-lo mais adequadamente. (Imagine, por
exemplo, a diferença entre segurar um copo de plástico descartável e um
copo de vidro.)
Esses impulsos nervosos que voltam do cérebro são captados por
eletrodos na pele que registram a atividade elétrica dos músculos do
coto (a parte remanescente do braço), decodificados pelo computador e
retransmitidos para a mão biônica na forma de comandos eletrônicos que a
prótese entende como comandos motores.
Tudo isso, claro, ocorre “instantaneamente”, numa fração de segundo.
Assim, Sorensen pôde ajustar a força e os movimentos dos dedos da mão
biônica em tempo real, de acordo com as características de cada objeto –
que ele conseguiu sentir como se os estivesse tocando com uma mão de
verdade.
Em vários testes realizados ao longo de quatro semanas num hospital
de Roma, ele foi capaz de distinguir entre vários objetos de formato e
consistência diferentes, e ajustar a força da mão e o posicionamento dos
dedos da maneira mais adequada ao manuseio de cada um. Ele conseguiu
sentir, por exemplo, a diferença entre uma laranja e uma bola de
baseball; e entre um cilindro de madeira e uma pilha de copos plásticos
descartáveis. Tudo puramente pelo tato “artificial” proporcionado pela
mão biônica (os olhos de Sorensen ficavam vendados e seus ouvidos,
bloqueados por fones, para garantir que as informações sensoriais dos
objetos recebidas por seu cérebro eram exclusivamente táteis, e não
visuais ou auditivas).

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